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Talentos que voam baixo

  • Writer: Maria Clara Castro
    Maria Clara Castro
  • Apr 3, 2021
  • 18 min read

Updated: Apr 3, 2021


Bom dia, boa tarde, boa noite! Hoje trouxe um resumo – talvez não tão resumido assim – sobre as categorias de base da Fórmula 1 e os brasileiros que estão seguindo este caminho. Nunca entendeu muito bem a escada para a F1 ou não sabe ao certo o que é esperado dos pilotos brasileiros nos campeonatos que disputarão? Agora é sua chance de entender e ter suas dúvidas respondidas! Vamos ao texto.


Sexta-feira, 10:30. Você liga a televisão, coloca no BandSports – ou consegue aquele link maroto ;) – e vê os carrinhos irem para a pista. Hora da Qualificação da Fórmula 2. O que esperar? Quem tem chance de título? Tem algum brasileiro? O carro é o mesmo para todos? Quais as equipes da ponta? E de fim de grid?

Se alguma dessas perguntas passou por sua mente, este texto é para você. Mas não só você que procura entender a Fórmula 2, interessados em Fórmula 3, W Series, Fórmula 3 Inglesa e Fórmula Regional Europeia by Alpine também são muito bem-vindos! E você pode estar se perguntando: por que abordar essas categorias da Europa? Bom, porque elas compõem o caminho para a Fórmula 1 e competem nelas pilotos que sonham chegar na mais alta categoria do esporte a motor.

Tudo ok? Cominciamo!

  • Categorias de Base

As categorias de base ou categorias de acesso à Fórmula 1, como o próprio nome indica, constroem um caminho desde o primeiro contato dos pilotos com os monopostos até a mais alta categoria do esporte a motor, ou seja, a Fórmula 1. Pensemos neste caminho como uma escada, sendo o primeiro degrau a Fórmula 4, em que há o primeiro contato do piloto com os monopostos. Essa categoria, organizada pela Federação Internacional do Automobilismo (FIA), acontece em esferas nacionais, de modo a existir F4 Espanhola, F4 Francesa, F4 Dinamarquesa, F4 Italiana, entre outras.

O segundo degrau da escada é composto por, digamos, duas dinâmicas diferentes, uma é a Fórmula 3 FIA Regional e a outra a Fórmula 3 Não-FIA. Vamos por partes.

A Fórmula 3 FIA Regional é organizada pela FIA e compreende a Fórmula Regional Japonesa, FR Américas, F3 Asiática e FR Europeia by Alpine. Um ponto importante: até 2020 existiam Fórmula Renault Eurocup e Fórmula Regional Europeia, mas a partir da temporada de 2021, a Fórmula Renault e a Fórmula Regional Europeia condensaram e formaram a Fórmula Regional Europeia by Alpine (FRECA), em que competirão Dudu Barrichello e Gabriel Bortoleto.

Já a Fórmula 3 Não-FIA, como ilustrado pelo nome, abarca campeonatos não organizados pela FIA, são eles: Euroformula Open, Superformula Lights, F3 Britânica – em que corre o Roberto Faria –, Toyota Racing Series e W Series – neste último campeonato competirá a brasileira Bruna Tomaselli.

O terceiro degrau é a Fórmula 3 FIA. Talvez neste momento você esteja se perguntando: por que a Fórmula 3 Não-FIA não está no mesmo degrau da FIA F3? Por conta dos padrões da federação. Esses destacam que, na F3, o carro – com o piloto usando o capacete – deve pesar no mínimo 670 kg e exige que o piloto tenha uma licença Grau B, a qual, dentre seus requisitos, determina que os pilotos tenham mais de 18 anos – para ser sincera, isto tudo está no papel, mas, na realidade, a FIA consegue fazer vista grossa em certos casos. Em relação ao carro da F3, o chassi é Dallara e possui motor Bespoke Mecachrome 6 cilindros, 3,4L e 380 cavalos de potência. Para a temporada deste ano, teremos o brasileiro Caio Collet competindo pela equipe MP Motorsport, porém ainda darei mais detalhes sobre isso. Sigamos.

O quarto degrau é a Fórmula 2 FIA, a qual precede apenas a Fórmula 1. Não pense, entretanto, que competindo neste campeonato em um ano, no próximo o piloto já estará na F1. A ida para a Fórmula 1 está mais conectada a ter dinheiro/patrocinadores do que ao talento em si, infelizmente. Em relação aos padrões estabelecidos pela FIA para esta categoria, temos que o carro – com o piloto usando capacete – deve pesar no mínimo 787 kg e os pilotos devem ter licença grau A. Em 2021, estão competindo na Fórmula 2 três brasileiros: Felipe Drugovich, Gianluca Petecof e Guilherme Samaia.

Contudo, um aspecto deve ser enfatizado: não existe um caminho certo para cada piloto seguir. Eles visam alcançar o último degrau, a Fórmula 1, e, para isso, alguns sobem um degrau de cada vez, enquanto outros decidem pular uma categoria, ou até mesmo escolhem permanecer em um degrau por mais tempo. São várias as opções e a escolha para qual caminho seguir depende de resultados, orçamento, patrocínio e talento.

Falemos agora de nossos talentos que voam baixo, os pilotos brasileiros!

Imagem do Instagram @felipedrugovich
  • Felipe Drugovich

Drugovich – lê-se “Drugovixi” – é um piloto maringaense de 20 anos, que fez sua estreia nos monopostos em 2016 na Fórmula 4 Alemã e atualmente compete na Fórmula 2. Fora da pista, discreto e simpático, dentro da pista, determinado e dedicado, Felipe é um piloto que combina foco e talento. Em 2020, fez sua estreia na F2 pela equipe holandesa MP Motorsport e conquistou uma pole position, três vitórias e um terceiro lugar.

Em 2021, Drugovich está correndo pela equipe britânica Uni-Virtuosi, equipe essa que já tem grande experiência na categoria. Na Fórmula 2, os carros têm os mesmos chassis – fabricado pela construtora Dallara – e motor – Mecachrome do tipo V6-F2 –, deste modo, o que varia são os set ups e a habilidade do piloto. Equipes com mais experiência possuem um maior acervo de dados e, portanto, têm um melhor entendimento de pista e de qual set up do carro é mais adequado para cada situação. Somado a isso, o piloto, quando talentoso, não só coloca a estratégia da equipe em prática, mas também maximiza os resultados.

No caso de Felipe, por estar em seu segundo ano na categoria e em uma equipe de ponta, espera-se uma briga pelo campeonato. Entretanto, não pense que a luta pelo título será fácil. Existem três principais aspectos a serem superados: o companheiro de equipe, os pilotos das equipes adversárias e o novo formato da categoria.

Drugovich tem como teammate esta temporada o piloto chinês da academia da Alpine Guanyu Zhou. Esse já está há três ano na categoria, bem como na Uni-Virtuosi, ou seja, demonstra experiência e fará com que o piloto brasileiro dê seu melhor para que, assim, ambos andem próximos ao ponto de disputarem pelo título. Além disso, Drugovich tem como oponentes, certamente, os pilotos de equipes adversárias como Shwartzman, Piastri – rookie extremamente talentoso –, Lundgaard, entre outros.

Contudo, o novo formato da Fórmula 2 para a temporada de 2021 é um aspecto relevante no que diz respeito à luta pelo título. A fim de cortar gastos, a FIA reduziu de doze para oito fins de semana de corrida, de modo que na sexta-feira ocorre um treino livre de 45 minutos e a qualificação, que dura 30 minutos; no sábado acontece duas corridas rápidas – as Sprint Races, em que o pit stop não é obrigatório. O grid da Corrida 1 – Sprint Race 1 – é formado da seguinte maneira: inverte-se os 10 primeiros da Qualificação, ou seja, quem conseguiu a pole position, largará em P10 na Sprint Race 1, quem conseguiu o P2, largará em P9 e assim por diante. Já para a Corrida 2, inverte-se aqueles que terminaram a Corrida 1 nas 10 primeiras posições, ou seja, quem ganhou a Corrida 1, largará em P10 na Sprint Race 2, quem terminou em P2, largará em P9 e assim em diante. Por fim, no domingo ocorre a Corrida 3 – Feature Race ou Corrida Principal, como preferir – e o grid é definido pela Qualificação da sexta-feira e o pit stop é obrigatório.

A partir deste formato de “grid invertido”, observa-se que foi criada a oportunidade de pilotos de equipes de meio e fim de grid andarem na frente e conquistarem pontos, tornando o campeonato mais competitivo, bem como proporcionando uma melhor formação aos pilotos. Pelo menos era essa a intenção – confesso que tenho certas críticas ao novo formato, mas vamos deixar para um outro texto. Além disso, pode-se notar, também, que a estratégia de pneus é de demasiada importância neste novo formato, se algo der errado na Qualificação da sexta-feira ou na Corrida 1 do sábado, muito provavelmente o fim de semana do piloto é comprometido. Foi o que aconteceu com o Felipe no fim de semana passado. Na Corrida 1, para evitar um contato, Guanyu Zhou freou no meio da reta na frente do piloto brasileiro, Drugovich, por sua vez, freou também, mas pouco adiantou e acabou tendo o bico do carro quebrado e um pneu furado. Teve de trocar os pneus. Na Corrida 2, durante o Safety Car, enquanto outros pilotos faziam pit stop, o brasileiro teve de permanecer na pista, uma vez que não dispunha de novos pneus, afinal já os havia usado na corrida anterior. Na Corrida 3, pela estratégia comprometida, o que deveria ser feito era terminar a corrida na melhor posição possível, o piloto brasileiro, felizmente, terminou em P9, conseguindo 2 pontos.


Imagem do Instagram @felipedrugovich

Percebem? Um detalhe leva o piloto à glória ou ao inferno. Esse novo formato abraça fortemente a imprevisibilidade e demanda que as equipes se superem cada vez mais nas estratégias. Mas como isso afeta o campeonato de Felipe Drugovich? Bom, a disputa pelo campeonato parece se tornar mais diversificada e, no caso do brasileiro, ele deve aproveitar cada oportunidade que tiver de pontuar. Felizmente, estamos no início do campeonato, ainda há sete rodadas pela frente e a Uni-Virtuosi é uma equipe experiente.

Você, fã brasileiro, acalme-se, nada está perdido. Ano passado o campeão da F2 Mick Schumacher começou a, de fato, disputar pelo campeonato no meio da temporada. Disso se traduz: Felipe Drugovich está sim lutando pelo título. Mantenhamo-nos positivos, a goiabada pode ter escapado, mas faca e o queijo ainda estão em mãos.


  • Gianluca Petecof

Imagem do Twitter @petecofbrasil

Gianluca Petecof é um piloto paulistano de 18 anos, apaixonado por basquete e NFL, e é tido como o dono de uma dicção invejável – se você ainda não viu o vídeo dele com apenas 10 falando sobre a final do campeonato brasileiro de kart de 2013, recomendo bastante que veja, link. Porém, não é só a oratória impecável um traço marcante do garoto, ele pilota extremamente bem!

Gianluca estreou nos monopostos em 2018 na Fórmula 4 Italiana e, em 2020, competiu na Fórmula Regional Europeia pela equipe Prema Racing. Neste campeonato, o brasileiro consagrou-se campeão com quatro vitórias. E olha, foi um ano difícil, viu? Quase que o piloto não termina o campeonato por falta de patrocinadores – infelizmente, essa é uma realidade recorrente a vários brasileiros que decidem correr mundo afora –, mas conseguiu que a Matrix Energia e Americanet o patrocinassem até o fim da temporada.

Enfim campeão da Fórmula Regional Europeia, acabou o sofrimento, certo? Errado! Apesar de ter conquistado o campeonato, Gianluca não teve seu contrato renovado com a Academia de Pilotos da Ferrari (FDA), em que fazia parte até então, e não conseguiu vaga na F3 FIA pela equipe Prema. Tudo parecia perdido...

Mas o Gianluca, de todos os lugares do mundo, nasceu na terra do povo que nunca desiste. Gianluca nasceu no Brasil e, portanto, tem os brasileiros junto a ele, apoiando-o sempre. Quando tudo parecia perdido, foi criada a hashtag “#PetecofNaF3” no Twitter e, por meio dela, milhares de fãs deram visibilidade ao caso do piloto brasileiro e pediram a grandes marcas que o patrocinassem. A hashtag chegou a ficar nas trends nacionais.

E o que aconteceu depois? No dia 8 de fevereiro, Petecof anunciou que correria pela equipe espanhola Campos Racing na Fórmula 2. Isso mesmo, Fórmula 2, não na FIA F3. Lembra que no início do texto eu disse que alguns pilotos saltam degraus da escada? Gianluca é um exemplo.


Imagem de Joe Portlock - Getty Images

Apesar de haver questionamentos se essa decisão foi a correta, cabe ressaltar que, em relação a Petecof, por causa do salto de categorias e por ser sua “rookie season” – temporada de estreia –, espera-se que 2021 seja um ano de adaptação. Trata-se de uma temporada para o piloto brasileiro aprender a gerenciar os pneus, extrair o máximo possível do carro, entrar em sintonia com a equipe – especialmente com seu engenheiro – e se adaptar ao formato da categoria. E por falar em formato da categoria, apesar da Campos Racing ser uma equipe de meio para fim de grid, a partir do novo formato da F2, nos melhores dias, isto é, com uma forte estratégia para o fim de semana e um pouco de sorte, existe chance de Petecof pontuar.

Não será um ano fácil – nunca é –, o garoto ainda enfrenta problemas em relação a patrocínio, mas será através de resultados e performances que ele mostrará seu talento e potencial. Por exemplo, na Corrida 2 da primeira etapa do campeonato, Petecof terminou em P13, a frente de seu companheiro de equipe já experiente na F2 Ralph Boschung, que ficou P17.

Em um vídeo postado no Instagram da Campos, Gianluca disse que sua frase favorita é “Quanto mais você trabalha, mais sorte você tem”. Para o piloto essa sentença, de fato, parece vogar. Ano passado, depois de trabalhar duro, conquistou o campeonato. Torçamos, portanto, que as metas para 2021 sejam alcançadas. Voa, Gian!


  • Guilherme Samaia

Imagem do Instagram @gsamaia

Samaia é um piloto paulistano de 24 anos e, em 2021, faz sua segunda temporada na Fórmula 2. 2020, entretanto, não foi um ano positivo para o piloto, de modo que, competindo pela Campos Racing, perambulou apenas pelas últimas posições do grid. Para a temporada de 2021, Samaia está em uma nova equipe, a Charouz Racing System e demonstra estar se adaptando bem ao novo ambiente. Na Corrida 1 da primeira etapa do campeonato, o piloto brasileiro segurava a 9ª posição, quase marcando seus primeiros pontos, mas recebeu uma punição de 5 segundos por desrespeitar as regras do Safety Car. Na Corrida 2, terminou em P11, novamente, quase pontuando.

Ao analisarmos a performance de Guilherme Samaia neste início da temporada e contrastarmos com sua temporada de 2020, podemos perceber certa melhora. Talvez o brasileiro esteja se adaptando melhor à equipe, bem como ao carro. Vamos observar e torcer.

  • Caio Collet

Imagem retirada do Twitter @ColletBrasil

Youtube. Live. Canal iCarros. Rodrigo França: “Hexacampeão paulista de kart, tetracampeão brasileiro de kart, vice-campeão do Florida Winter Tour, terceiro no mundial de kart, campeão do Volante Winfield, campeão da Fórmula 4 Francesa com 7 vitórias, campeão da Fórmula Renault Eurocup de rookie – isto é, o melhor dos estreantes da categoria na temporada de 2019 –, vice-campeão geral no ano seguinte e, agora, piloto FIA F3”. 32 segundos. Em 32 segundos, Rodrigo França expôs os melhores resultados da carreira de Caio Collet, mas o jornalista conseguiria estender facilmente os 32 segundos em 30 minutos se fosse detalhar cada conquista do piloto brasileiro.

Caio é um garoto de 19 anos – na verdade, hoje (3/abril) é seu aniversário – nascido e criado em São Paulo. Ele começou a andar de kart por volta dos 7 anos e, em 2018, aos 15, mudou-se para a Europa. À princípio foi um momento difícil, mas quando se é piloto brasileiro disputando campeonatos mundo afora, torna-se necessário abrir mão de estar perto do lar, família e amigos. E todo esforço parece estar valendo a pena. O brasileiro estreou nos monopostos em 2018 na Fórmula 4 dos Emirados Árabes Unidos e, no mesmo ano, disputou a F4 Francesa, ganhando o campeonato. Esse resultado chamou a atenção de Nicolas Todt, agente de Charles Leclerc e Felipe Massa, convidando o garoto para integrar a All Road Management e, claro, Collet aceitou. Em 2019, ele competiu na Fórmula Renault Eurocup, terminando o campeonato como o melhor rookie, e, em 2020, correu novamente na Fórmula Renault, sendo vice-campeão da categoria.

Fora da pista, Caio parece ser disciplinado, reservado, simpático e risonho, enquanto dentro da pista, Collet é calculista e impávido. A mais complexa das situações, não aparenta conseguir parar esse piloto. Por exemplo, ano passado, na etapa de Ímola da Fórmula Renault, o engenheiro de Collet testou positivo para o covid-19. Game over, né? Não, pelo contrário, na verdade. O piloto brasileiro correu mesmo assim e ganhou a primeira corrida do fim de semana.

Imagem do Instagram @caiocollet

Em 2021, Caio disputará a Fórmula 3 FIA pela equipe MP Motorsport – sim, a mesma equipe que Drugovich correu ano passado na Fórmula 2, também faz parte da FIA F3. Nesta temporada, Collet enfrentará certos desafios. Primeiramente, deve-se ressaltar o desenvolvimento da MP. Essa não é uma equipe de ponta na F3, porém almeja crescer na categoria e, para isso, contratou engenheiros experientes e apostou em pilotos promissores para essa temporada na F3, como os pilotos da academia da Alpine Caio Collet e Victor Martins, e, completando o trio, o holandês Tijmen Van Der Helm.

Em relação a equipe, a intenção de se desenvolver é evidente e, a meu ver, mostra-se sábia e estratégica a decisão de contratar Collet e Martins. Ambos, ano passado, foram rivais, andando lado a lado na Fórmula Renault, já em 2021 serão teammates. Trata-se, portanto, de uma rivalidade complexa. Por um lado, devem trabalhar juntos, extrair o máximo possível do carro e colher bastante dados para ajudar a equipe; por um outro ângulo, como frequentemente enfatizado no mundo do automobilismo, um dos mais relevantes ou talvez o maior rival de um piloto é o seu colega de equipe. Se o piloto não supera o teammate, que teoricamente tem o mesmo carro, quem então ele superaria? Neste sentido, poderemos ver Caio puxando Victor ao limite e vice-versa. No início do campeonato, por eles serem rookies, sairá na frente quem melhor se adaptar ao carro e souber gerenciar os pneus. Porém, não se emocione, leitor. Apesar de ser um piloto brasileiro versus um piloto francês, por favor não enxergue Senna versus Prost em tal situação. Caia na real e perceba que são dois pilotos com demasiado potencial buscando realizar o sonho de estar na Fórmula 1.

Em relação às datas, os testes de pré-temporada começaram hoje (3/abril) – sim, no dia do aniversário de Caio – em Spielberg, Áustria. Que presentão, hein? Depois, nos dias 21 e 22 de abril, acontecerá o segundo teste em Barcelona. A primeira etapa da temporada também acontece nas terras catalãs de 6 a 8 de maio. Por fim, o terceiro teste ocorrerá logo após a etapa inicial, nos dias 12 e 13 em Jerez, Espanha. Talvez esteja questionando: “Ué, a primeira etapa e depois o terceiro teste? Não faz sentido”. Bom, a priori, realmente não faz sentido, mas, por conta da pandemia de covid-19 e medidas restritivas nos países europeus, o calendário foi modificado algumas vezes.

A nós, fãs de automobilismo, resta-nos torcer. Como bem enfatizado neste texto, Collet pilota muito bem e tem capacidade de brigar por pódios e poles. Felizmente, poderemos acompanhar as etapas de perto pelo BandSport e torcer bastante pelo brasileiro. Acelera, Caio!


  • Bruna Tomaselli

Imagem do Instagram @brunatomaselli

Bruna Tomaselli é uma piloto de 23 anos nascida em Caibi, Santa Catarina. Aos 7 anos, começou a andar de kart e, com apoio de seus familiares, decidiu seguir carreira no mundo das pistas. A garota fez a transição para os carros de fórmula em 2013, passando a competir na Fórmula Jr., e, em 2015 estreou na F4 Sudam. Nesta última categoria, ocorreram dez etapas, o que possibilitou Bruna adquirir experiência em um monoposto e, em seu segundo ano no campeonato, terminou em quarto lugar.

Em 2017, Bruna teve de escolher entre seguir carreira na Europa ou nos Estados Unidos, porém, por conta do orçamento, o continente europeu estava fora de questão. Assim, a fim de continuar guiando monopostos e obter mais experiência, a brasileira passou a competir na USF2000 em 2017 – aos que não sabem, essa categoria faz parte do “Road to Indy”, isto é, caminho para Fórmula Indy; a USF2000 é o primeiro degrau, o segundo seria a Indy PRO, o terceiro a Indy Lights e, finalmente, a Fórmula Indy.

No seu ano de estreia, com intuito de apenas conhecer o automobilismo estadunidense e entender melhor a categoria, Tomaselli participou de cinco das oito etapas da USF2000. Contudo, 2019 foi seu principal ano na categoria. Correndo pela equipe Pabst Racing, a brasileira competiu com um grid de mais de vinte pilotos e acabou terminando o campeonato em oitavo lugar. Por fim, recebeu um prêmio por ter sido a piloto que fez mais ultrapassagens naquela temporada.


Imagem do Instagram @brunatomaselli

Em relação a W Series, Bruna participou de uma seletiva no final de 2019 em Almería, Espanha. Das quinze meninas que participaram da seletiva, oito foram selecionadas – Bruna, felizmente, foi uma delas. Mas o grid é formado por apenas oito meninas? Não! As pilotos que terminaram o campeonato nas doze primeiras posições tiveram vaga garantida para a temporada do ano seguinte.

Já que estamos falando de W Series, aproveitarei para explicar um pouco sobre a categoria: a W Series é um campeonato criado em outubro de 2018 e teve sua primeira temporada disputada em 2019. Com apoio de pessoas como David Coulthard, ex-piloto de Fórmula 1, e Adrian Newey, engenheiro de F1 da Red Bull, a categoria emergiu a partir da ideia de incentivar uma maior participação das mulheres no automobilismo.

Se formos localizar onde está a W Series na escada para a Fórmula 1, ela está no segundo degrau, compondo parte no grupo da F3 Não-FIA. Contudo, diferentemente dos campeonatos deste grupo, a W Series tem seu grid formado somente por mulheres, uma vez que a intenção é justamente promover uma maior participação das mulheres nos monopostos. Vejamos, em um campeonato de grid misto, a tendência é ele ser preenchido majoritariamente por homens, o que faz a participação feminina ser baixa. O grid exclusivamente feminino foi pensado para dar oportunidade àquelas garotas que, apesar do talento, não conseguiram vaga na categoria de grid misto.

E o talento é de significativa importância na W Series. Para participar, a piloto não compra vaga, mas sim deve passar pela seletiva e, uma vez aprovada, a própria categoria a banca. Além disso, também de modo diferente a outras categorias, na W Series há apenas uma equipe, a Hitech Grand Prix. Essa disponibiliza engenheiros e equipamentos para as pilotos e, a cada etapa, a garotas mudam de carro e engenheiro, para que o suporte da piloto não fale mais alto que sua capacidade.

Em relação à temporada de 2021, Bruna Tomaselli será a piloto a levar a bandeira do Brasil no grid. A competição parece ser competitiva, mas, haja vista a carreira de Bruna, ela tem potencial para brigar por vitórias e poles.

Os testes de pré-temporada, que ocorreriam à princípio no mês de abril em Valência, Espanha, acontecerão de 17 a 21 de maio no circuito de Anglesey, País de Gales. Quanto a transmissão, a temporada de 2019 foi transmitida no YouTube, porém não há essa confirmação para 2021. Fiquemos de olho. No mais, arrasa Bruna!


  • Roberto Faria

Imagem de Jakob Ebrey

Roberto Faria é um piloto carioca de 17 anos e em 2021 disputará a Fórmula 3 Britânica. Torcedor do Vasco, inicialmente, o garoto sonhava em ser jogador de futebol, porém, aos 10 anos, ingressou no kart e deixou a bola de lado.

Roberto fez sua estreia nos monopostos em 2019 na Fórmula 4 Britânica pela equipe inglesa Fortec Motorsport. Neste campeonato, o piloto disputou a temporada de 2019 completa, conquistando 21 pódios e sendo o terceiro melhor rookie. Em 2020, após completar quatro etapas, Faria migrou para a Fórmula 3 Britânica. Isso porque, além de ter surgido a oportunidade, uma discordância com a organização da prova contribuiu para a mudança de categoria.

Os organizadores exigiram que não residentes da Inglaterra fizessem quarentena de 14 dias para estarem presentes no campeonato, ainda que o exame PCR desse negativo. O governo inglês, no entanto, dispensava de quarentena de 14 dias caso o PCR desse negativo. A organização da prova ignorou a determinação do governo. O problema é: uma parte significativa do staff de Roberto não residia na Inglaterra e sua não presença nas corridas afetaria o campeonato do piloto. Deste modo, ao haver a possibilidade de migrar para a F3 Britânica, Roberto agarrou a chance. Na nova categoria, o brasileiro, correndo novamente pela Fortec, pareceu se adaptar um tanto rápido, mesmo que neste campeonato as equipes andem próximo e o diferencial estar nos detalhes. Em Silverstone, Roberto terminou em 2º lugar na última corrida do ano.

Em 2021, Faria já foi para a pista, competindo na F3 Asiática pela equipe Motorscape. Carro diferente, categoria nova e de nível um tanto alto – o grid era composto, por exemplo, pelos pilotos de Fórmula 2 Guanyu Zhou e Jehan Daruvala – Roberto, bem como a equipe estavam se adaptando e, ao longo do campeonato, foram melhorando. O intuito não era brigar pelo título, mas adquirir experiência no que se refere a gerenciamento de pneus, desenvolvimento de set up, defesas, ultrapassagens e largadas.


Imagem de Jakob Ebrey

Para a temporada de 2021 na F3 Britânica, o piloto brasileiro mira a luta pelo título. Agora com mais experiência na categoria, ele está confiante para terminar entre, pelo menos, o top 3 e, acreditem, o garoto tem potencial para isso. Em relação ao calendário, o campeonato inicia no dia 22 de maio em Brands Hatch, passando depois por pistas como Silverstone, Donington Park e Spa-Francorchamps. Certamente, estaremos na torcida. Voa, Roberto!


  • Gabriel Bortoleto

Imagem do Instagram @gabrielbortoleto_

Bortoleto é piloto brasileiro de 16 anos, dono de um estilo de roupas um tanto único, algo entre pescador e trapper – se você checar o Instagram dele, entenderá o que estou dizendo. Brincadeiras à parte, o garoto fez sua estreia nos monopostos ano passado na Fórmula 4 Italiana pela equipe Prema Racing e obteve resultados positivos: pole position em Vallelunga e em Monza, vitória em Mugello, além de largar em P16 na Corrida 2 de Monza e terminar em P3, bem como largar em P22 na Corrida 3 e terminar em P2.

Em 2021, o piloto brasileiro disputará a Fórmula Regional Europeia by Alpine (FRECA) pela equipe DR Formula, a qual tem certa experiência tanto na F4 Italiana, quanto na antiga Formula Regional Europeia. Para Gabriel, trata-se de um ano para desenvolver mais sua guiada, agora com um carro mais rápido e com mais downforce. Caso esteja se perguntando, na FRECA os carros possuem mesmos chassi – fabricado pela empresa italiana Tatuus – e motor – Renault Sport Oreca.

Imagem do Instagram @gabrielbortoleto_

No que diz respeito aos testes de pré-temporada, tendo em vista que a DR Formula não é uma equipe de ponta do grid, Bortoleto gravitou em torno do P14 ao P17 em Ímola, P24 e P25 em Barcelona, e P20 ao P28 em Paul Ricard. Espera-se, portanto, que, ao achar um bom acerto para o carro, o brasileiro brigue por pódios e poles, até, nos mais positivos cenários, vitórias.

Ainda é cedo para se ter uma ideia concreta do desenrolar do campeonato, então fique ligado a partir de 16 de abril, quando começa a primeira etapa em Ímola. De resto, vai com tudo, Gabriel!


  • Dudu Barrichello

Imagem do Instagram @dudubarrichello

Se você, querido leitor, já de cara reconheceu o piloto que abordarei agora, gostaria que se atentasse ao seguinte: Dudu Barrichello não se limita ao sobrenome.

O garoto nasceu na selva de pedra, São Paulo, e começou a se interessar pelo kart por volta dos 11 anos. Estreou nos monopostos na Fórmula 4 Norte-Americana, em 2018, e competiu na USF2000 em 2019 e 2020. Ano passado, o brasileiro terminou o campeonato em 2º, de modo a ter conquistado três pole positions e três vitórias, além de ter subido no pódio nove vezes.

2021, entretanto, é um ano de mudança para Dudu. Ele deixa sua vida nos Estados Unidos e se muda para a Itália. Quem o segue no Instagram e assiste aos seus stories, vê Dudu compartilhando um pouco de sua nova rotina – sério, parece uma série de TV! Tem a vez que ele esqueceu o carro ligado, ou quando não achava um banheiro nos postos de uma estrada e, claro, o episódio da listinha do supermercado com a participação especial de Caio Collet. Mas falando sério, é um ano difícil para Dudu. Ele competirá na Fórmula Regional Europeia by Alpine, mesma categoria que correrá Bortoleto, só que pela equipe JD Motorsport. Porém, diferentemente dos pilotos da categoria, o brasileiro precisa se adaptar a um novo país, língua, modo de vida, bem como ao automobilismo europeu. O piloto em questão, antes da pré-temporada, teve contato com as pistas apenas pelo simulador. Neste sentido, os fãs do esporte a motor devem ter um pouco de calma. Em um cenário realista, não é esperado ver Dudu andando na ponta, mas sim entre o meio do grid.


Imagem do Instagram @dudubarrichello

Nos testes de pré-temporada, em Ímola, o brasileiro andou em torno do P12 ao P26, em Barcelona do P17 ao P25, e em Paul Ricard do P16 ao P30. A temporada terá início em 18 de abril no Autodromo Internazionale Enzo e Dino Ferrari e, olha, o campeonato promete. Tendo um dos calendários mais completos das categorias de base – Ímola, Barcelona, Monaco, Paul Ricard, Zandvoort, Nurburgring, Spielberg, Mugello e Monza – e um grid forte com Paul Aron, Mini, Colapinto, Saucy, Pasma, Hadjar, Beganovic, entre outros, poderemos ver boas disputas nas pistas. Torçamos, portanto, pelos brasileiros e, no caso de Dudu, que ele tenha uma boa adaptação e alcance suas metas para este ano.


E finito. Como eu disse, resumo não tão resumido, né?

Espero que o texto tenha lhe ajudado a compreender um pouco sobre a base e conhecer mais os pilotos brasileiros. Caso tenham dúvidas ou desejam apenas trocar uma ideia, me manda uma DM no Twitter ou Instagram, ou até mesmo um e-mail (mcdbc01@gmail.com).

Até o próximo post!

 
 
 

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