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Retalhos pelas ruas

  • Writer: Maria Clara Castro
    Maria Clara Castro
  • Dec 27, 2020
  • 3 min read

27 de dezembro de 2020. Quatro dias para acabar o ano, ano esse atípico, cheio de turbulências e aprendizados. Hoje trago um texto um tanto reflexivo, leve, mas com potencial de lhe fazer pensar um pouco. À proposito, a ideia de escrever este texto nasceu conversando com um amigo meu, o Diego Mahs, e dedico o mesmo a ele. Espero que gostem. Eis o texto:

Eu olho pela janela. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito... onze... dezesseis... vinte... vish, perdi a conta! Quanta luz acesa no prédio da frente! Será que elas iluminam os quartos ou as salas de estar? Quem será que mora lá? Olha, um garoto e um senhor, será que são pai e filho, avô e neto, tio e sobrinho ou simplesmente amigos? Quais são suas histórias, seus retalhos?

Retalhos? Sim, retalhos. Gosto de pensar que somos um amontoado de experiências e, como gosto de coisas que trazem conforto, por que não pensarmos em nós como uma colcha de retalhos? A cada ensinamento, leitura, conversa, viagem, música um retalho é adicionado à colcha de nosso ser.

E vagamos por aí, “simples” assim.

Bethany Hamilton - imagem retirada do Pinterest

Por volta dos 13 anos, Bethany Hamilton – surfista havaiana que perdeu o braço esquerdo em um ataque de tubarão – contribuiu com um retalho a minha colcha. Bethany me ensinou a colocar as situações/ os problemas em perspectiva. Em 2003, ela perdeu o braço, era o fim do mundo, pensava. Em 2004, fez parte de um voluntariado no Haiti para ajudar famílias que perderam casas e entes queridos com a passagem do furacão Jeanne. Eu tenho uma família, amigos, casa e saúde. Eu sobrevivi, pensou Bethany, talvez perder o braço não seja tão ruim assim. Ela avaliou sua situação, colocou-a em contraste com a dor de outros e percebeu que não estava tão próxima do fim do mundo quanto pensava. “Simples assim”.

Reflitam comigo sobre essa simplicidade. A gente tende a complicar as coisas. A vida por si só é difícil, mas parece que, desnecessariamente, tendemos a aumentar o grau de complexidade. Vemos elefantes em formigas.

Que tal pensarmos na vida como uma cidade? Repleta de ruas e esquinas, vagamos por ela diariamente fazendo escolhas e agregando retalhos às colchas. Gosto de pensar de tal modo, é simples. Entretanto, por favor, não pense que estou retirando a complexidade do viver. Muito pelo contrário. Estou alertando para as diversas nuances, graus do complexo.

Uma vez, conversando com um amigo meu – oi Diego, sim este texto é dedicado a você ;) –, ele me contava sobre um relacionamento amoroso que teve. Eu adorei, não o relacionamento em si, mas o quão V I D A aquilo tudo soava. Eu lhe respondi: “Você vivia na sua, um belo dia, nas esquinas da vida, esbarrou na fulana. Começaram a andar juntos. Ruas pra lá, experiências pra cá, algumas pedras no caminho (alô Drummond!), tiveram de se separar. Ela precisava de um respiro, de uma rua só para si e assim está sendo. Você, bem, você vive agora caminhando em sua própria rua, mas para que faça isso de fato, precisa de um último encontro. De uma última esquina. Tá entendendo a poesia da sua vida?”. É uma situação complexa, haja visto que envolve dois indivíduos, duas vidas, duas colchas de retalhos, mas ainda simples e poética.

A simplicidade se expressa quando aceitamos os diferentes graus do complexo e aprendemos a colocar nossos problemas em perspectiva.

Compreende? Espero que sim.

Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito... eita, as luzes do prédio da frente já são contáveis nos dedos. Vou parar por aqui. Agradeço todo o apoio de vocês, significa muito, de verdade. Espero que tenham tido um bom Natal e que possa ter agregado algum retalho à colcha de sua vida.

Até logo, até o próximo post.

 
 
 

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