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Elas que ousam #3

  • Writer: Maria Clara Castro
    Maria Clara Castro
  • Mar 23, 2021
  • 3 min read

Céu azul, árvores, colinas, um vento fresco e sol ameno. Corredores de madeira, cheiro de comida saindo da cozinha do Hotel am Tiergarten e de longe os sons vindos do autódromo. A garotinha de sorriso leve via mais racing suits do que jeans e camisas. E gostava disso. Aquela fumaça que saía dos pneus, o cheiro de gasolina, a velocidade dos carros. Velocidade, velocidade, Sabine Schmitz queria ser a velocidade. Seja de patins, bicicleta ou de carro, a garota queria ser rápida, a mais rápida.

“Idade?”

“18 anos”, disse Sabine à atendente do circuito. A garota, na verdade, tinha 17 e dirigia a BMW de sua mãe, detalhe: sem a permissão da mesma e sem carteira de motorista. E assim, completou pela primeira vez uma volta no circuito de Nürburgring, na parte de Nordschleife.

Ok, momento de pausa importante! Caso não saiba, Nürburgring compreende duas partes: Nordschleife, que tem cerca de 20,83 km, e Grand Prix Strecke, ou seja, a pista em que ocorre, por exemplo, as corridas de Fórmula 1. Hai capito? Continuemos com a história de Sabine.

A piloto alemã amava aquela pista. Tinha decorado cada curva, trecho de aceleração, ponto de frenagem... não era conhecida como “Rainha de Nürburgring” à toa. Seu reinado naquelas pistas teve momentos marcantes, como as 24 Horas de Nürburgring. Esse é um campeonato de endurance – aos leigos, longa duração – que conta com a participação de mais de 200 carros e 700 pilotos. Aos 27 anos, tendo como companheiro de equipe Johannes Scheid e pilotando uma BMW M3 E36, Sabine ganhou a corrida, tornando-se a primeira mulher a conquistar as 24 Horas de Nürburgring. Com 28, em 1997, também.

O reinado de Sabine, entretanto, era diferente. Ao invés de concentrar o poder em si, a garota queria demonstrar a magia de seu reino, desvendar os segredos de Green Hell/Inferno Verde – como “carinhosamente” Sir. Jackie Stewart apelidou Nürburgring. Criou, portanto, o “Ring Taxi”, que funcionava mais ou menos assim: Está visitando o autódromo e gostaria de conhecer uma das pistas mais perigosas do mundo? Sem problemas! A taxista mais veloz deste planeta dá uma volta com você dirigindo uma BMW M5. Sim, isso mesmo, a Rainha de Nürburgring levava-lhe a um passeio em seu reino! E não pense que era uma voltinha a meros 60 km/h. Trata-se de uma piloto atrás do volante, a volta era com pé embaixo. Coloque o cinto ou voará pela janela! Caso esteja curioso, sim, o projeto está em vigor até os dias de hoje, porém, infelizmente o passeio não é com a rainha, mas com seus ajudantes.

Rápida, original, Sabine também era destemida. Em um episódio do Top Gear, famoso programa britânico sobre, principalmente, veículos automotores, o apresentador Jeremy Clarkson fez uma volta em Nordschleife em 9 minutos e 59 segundos pilotando um Jaguar S-Type.

“Eu faço isso em uma van”, disse Schmitz com um tom desafiador.

Na primeira tentativa, acompanhada do outro apresentador Richard Hammond, Sabine completou a volta em 10 minutos e 23 segundos. Não superara Clarkson.

“Vou tentar novamente!”

Sabine na 1ª tentaiva. Ao lado dela, Richard Hammond

Tiraram todos os pesos extras da van, incluindo o apresentador. 137 curvas. Ela acelerou, acelerou, mais e mais, motos e Porsches foram ultrapassados. 10 minutos e 8 segundos. Faltou apenas 9 segundos para bater o tempo de Clarkson.

Porém, antes de fazer uma expressão triste leitor, atente-se aos seguintes detalhes: Clarkson pilotava um Jaguar S-Type, enquanto Sabine uma van de 136 cavalos e que ia de 0 a 100 km/h em longos 21 segundos. Mesmo assim, Schmitz ficou distante do tempo de Clarkson em apenas 9 segundos! Fenomenal.

A garota de sorriso leve era única. Crescera no hotel, o qual hospedou os pilotos Ascari e Nelson Piquet, vivia perto do autódromo, competia em corridas locais… E sabe o que é tão incrível quanto tudo isso? Sabine também era piloto de helicóptero, estudou hotelaria na faculdade e até 2003 tinha um bar chamado “the Fuchsröhre” – em português, a toca da raposa. Sabine Schmitz era singular, era… infelizmente, em 2017 a piloto alemã foi diagnosticada com câncer e, na semana passada, dia 16 de março, veio a falecer.

Longo talvez não tenha sido seu reinado, mas certamente deixou sua marca. Aquele sorriso leve, a sede por velocidade, a simpatia, a autenticidade e a originalidade… o poder da Rainha de Nürburgring era tanto que em suas mãos o Inferno Verde tornava-se paraíso.

Descanse em paz, Sabine.


Esse foi o texto de hoje, um pouco da história de Sabine Schmitz. Confesso que estou um pouco arrepiada e emocionada, a história dela é tão mágica, inspiradora… enquanto escrevia, tinha a sensação de que estava contando algo irreal, quase que um conto ou um filme.

Espero que tenha gostado, leitor! Caso queira conversar, tirar dúvidas, me mande uma DM no Twitter, Instagram ou um e-mail (mcdbc01@gmail.com).

Até o próximo post!

 
 
 

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