Elas que ousam
- Maria Clara Castro
- Mar 8, 2021
- 5 min read

8 de março. Dia Internacional da Mulher. Para alguns é só mais uma segunda-feira. Para as mulheres é dia de luta, dia de lembrar de quem lutou por nós. Dia de pensar em Chimamanda Ngozi Adichie, Simone de Beauvoir, Clara Zetkin, Djamila Ribeiro, Angela Davis, Bell Hooks, Wangari Maathai, Nísia Floresta, Chiquinha Gonzaga, Lella Lombardi, Maria Teresa de Fillipis e tantas outras mulheres, e as agradecer.
Quando o mundo dizia não, elas ousaram dizer sim. Dizer… gritar, reivindicar em alto e bom som, sem ao menos a voz tremer. Obrigada pela coragem, obrigada por tudo e por tanto. Vocês me inspiram.
E falando em inspiração, hoje dou início o projeto “Elas que ousam” sobre mulheres que ousam pensar alto, serem elas mesmas, seguirem seus sonhos. O projeto surgiu a partir da thread que fiz no Twitter “Mulheres no Automobilismo”, porém, por ser uma rede social tão efêmera e estabelecer um número máximo de caracteres, decidi transportar a thread do Twitter para o Pensando Alto em forma de texto e detalhando mais a história de várias mulheres. Semanalmente, falarei sobre a carreira de três a quatro mulheres do mundo do automobilismo.
Hoje será a vez de Stephanie Travers, Lella Lombardi e Rachel Loh.
Stephanie Travers

Stephanie Travers nasceu no Zimbábue e, aos 26 anos, tornou-se a primeira mulher preta a subir em um pódio da Fórmula 1, no Grande Prêmio da Estíria de 2020.
Ela é formada em engenharia química pela Universidade de Bradford e fez especialização na Imperial College de Londres, enquanto trabalhava como professora de piano e garçonete. Hoje é engenheira de fluidos da Mercedes.
Você deve estar se perguntando: como Stephanie conseguiu ser engenheira da Mercedes? Bom, a Petronas é patrocinadora e fornecedora de combustíveis e lubrificantes da equipe alemã. Em 2019, a empresa abriu um processo seletivo, o qual Stephanie se candidatou e passou. Ela enfrentou mais de sete mil concorrentes. Sim, sete mil. Como ela conseguiu? Além da competência, dedicação e formação que a garota tem, ela manteve a calma e enfrentou o processo seletivo etapa por etapa. Pensar no processo como um todo causa ansiedade, pensar e focar uma etapa de cada vez não causa tanto assim. Nas palavras de Stephanie: “Tive a coragem de entrar e, a partir deste ponto, disse que isso era algo que eu sempre quis fazer, pois um processo global não deve me impedir de me inscrever”.
Em relação a rotina da engenheira, Stephanie começa seus trabalhos na pista logo nas terças-feiras de semanas de corrida e é responsável por fazer a análise do combustível, óleo do motor e do câmbio, garantindo que esses estão de acordo com os padrões FIA, bem como se certificando que o combustível não teve suas especificações alteradas no transporte.
Stephanie tem um conselho a dar aos jovens: “para tudo na vida, o mais importante é amar o que se faz [...] Faça o melhor que puder na escola, concentre-se nos assuntos do seu interesse e não se afaste deles se souber que o caminho é uma carreira [majoritariamente] masculina.”
Lella Lombardi

Se você acompanha/sabe um pouco sobre automobilismo, talvez esse nome não seja tão estranho para você.
Lella Lombardi é italiana de Frugarolo e filha de um açougueiro. Para ajudar o pai e por gostar de dirigir, Lella era motorista da van do açougue. Mas não, o início de sua carreira não foi dirigindo a van do açougue. Ela começou no kart, passando depois pela Fórmula Monza, Fórmula 3 Italiana, Fórmula 850 – em que foi campeã com quatro vitórias –, Fórmula Ford Inglesa, Fórmula 5000, Fórmula 1, NASCAR em Daytona e algumas corridas de carros de turismo.
A italiana acelerava muito! Peço por favor, caro/a leitor/a, feche os olhos, ou melhor - já que está lendo - concentre-se nas palavras e tente imaginar: O ano é 1975. O grid da Fórmula 1 contava com nomes como Niki Lauda, Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace, Graham Hill, James Hunt, Mario Andretti, Wilson Fittipaldi e… Lella Lombardi. Sim, Lella Lombardi. E não tem como falarmos dela sem mencionar o Grande Prêmio da Espanha.
Barcelona, circuito de rua de Montjuic. Guard rails e telas montados não tão cuidadosamente, tornando a prova mais perigosa. Tentaram aparafusar as barreiras, alguns pilotos ameaçaram não correr, mas foi dada a largada mesmo assim. Depois de algumas voltas, um acidente. Rolf Stommelen perdeu a asa traseira e voou sobre as telas. Infelizmente, o alemão se feriu gravemente e quatro pessoas faleceram. Diante desse caos a corrida foi encerrada. No momento do acidente, havia sete carros na pista, Lella era a sexta colocada! Por ter sido completo apenas um quarto da prova, a divisão de pontos foi pela metade, fazendo a italiana somar 0,5 pontos. O primeiro ponto de uma mulher na Fórmula 1!
Quando saiu da mais alta categoria do esporte a motor, Lombardi pilotou na NASCAR em Daytona e participou de corridas de turismo. Em 1988, parou de correr profissionalmente e em 03 de março de 1992 veio a falecer deixando sua marca no automobilismo e sendo inspiração para várias mulheres.
Rachel Loh

A Rachel é engenheira da Stock Car pela Ipiranga Racing Team.
Desde pequena já gostava de carrinhos e, quando estudante da Universidade Federal Fluminense (UFF), ela fez parte de um projeto em que criaria o protótipo do carro, o construiria e o pilotaria. Esse protótipo compôs parte em torneios tradicionais dos cursos de engenharia, que envolvem off-road, motor a combustão, elétrico e entre outros. Além disso, em sua equipe, Rachel participou da fabricação, organização e administração, tornando-se a chefe/capitã da equipe em 2003.
A engenheira avalia tal experiência como marcante e agregadora. E de fato foi, tanto que com a ajuda de um colega de equipe, iniciou sua carreira na Stock Car em 2005 como engenheira de dados. Foi um grande desafio, haja visto que ela tinha pouca experiência na área e à época a categoria passava a adquirir painéis e sensores para os carros.
Hoje, Rachel é engenheira de pista da Ipiranga Racing e já foi também assistente da Toyota na Fórmula 1, bem como atuou na antiga GT3.
Uau. Inspiradoras, brilhantes, de tirar o fôlego… Porém, por favor, leitora – sim, estou falando agora diretamente com o público feminino –, não enxergue a história das mulheres que citarei neste projeto como superiores a você. Não crie uma hierarquia de seres. Pense nelas como irmãs mais velhas que compartilham conosco vivências e aprendizados. Não só isso, olhe para as mulheres ao seu redor – mãe, irmã, avó, tia, amiga – e se atente às experiências delas. Encontre nessas histórias a força para levantar todos os dias e ousar ser você mesma, ousar acreditar em seus objetivos, ousar lutar pelo nosso espaço. A nossa força nos conecta, nossas histórias nos inspiram e nossa união nos move.
Hoje o texto fica por aqui. Espero que tenham gostado e que estejam tão animados para o projeto tanto quanto eu. Caso queiram indicar alguma mulher para eu contar aqui, me mandem mensagem no Twitter (castro_03), Instagram (@mariaclara__castro) ou por e-mail (mcdbc01@gmail.com).
Obrigada pelo apoio! Feliz Dia Internacional da Mulher <3
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